terça-feira, 28 de novembro de 2017

aquela carta nunca enviada
finalmente, postou-se 
de cima até embaixo de lágrimas
pontos finais fecham textos
rasgam almas 
vão parindo a gente pra fora (ou pra dentro) das coisas
lufadas de ar novinhas
com as feridas abertas e tudo
foi ponto final pra tudo quanto é lado.
fim. fim. fim. 
pra eu poder ser eu, bem pra lá de mim.


[27 de novembro/2017]
tinha milhares de projetos e projéteis
guardados na bolsa, embrulhados para presente
o sol de quinta queimava a retina
derretia o oceano
quebrava na raiz tudo que era mato e fruto
se perguntava: será que vinga?


[15 de outubro/2017]

poesia de egocêntrico

(para o carinho que vi passar)
um carinho
que vá à feira
e lhe traga flores


[4 de outubro/2017]
"qualquer coisa doida dentro mexe"
quando olha as fotos,
quando lê os livros,
quando recebe e-mails da companhia aérea que usou naquela viagem
ou observa o inverno passar sem o frio daquele ano.
mas já mexe dentro doida
e não sente mais o mesmo borboleteamento
nem as mesmas rimas, 
nem o mesmo choque. 
amor, saudade, lembrança... não sabia bem o que sedimentou daquele tempo. 
e foi ficando só o pedaço, junto d'outros cacos.
memória. 
coisa que fica feliz e se mexe. doida. dentro
e fora.


[19 de setembro/2017]

pequeno dicionário de loucuras singelas

me.mó.ri.a
ficção, recordação presente
lem.bran.ça
ficção, ato mental pelo qual a memória reproduz um fato passado
viver, dizem os técnicos: é verbo intransitivo
e os sábios: é verbo de transição direta, verbo de contato.

[21 de setembro/2017]
há uma solidão nessa humanidade que eu sinto
há sempre uma humanidade nessa solidão cortante, ingênua, profunda, silenciosa
ser abismo é estar só 
e atrair gente

[6 de novembro/2017]
Existe um gesto de deglutição em nós.
Abrir a boca, fechar, mastigar, engolir 
a própria língua. A palavra. A primeira fala.
Nosso silêncio sem sol,
e seguimos mastigando e engolindo a própria língua.
Algumas pessoas pensam que é fácil falar.
Fácil, fácil para eles. Nós engolimos a palavra.
As silenciadas e silenciosas, mudas com voz:
abrimos a boca, fechamos, mastigamos e engolimos a amarga língua.

[14 de dezembro/2016]